Abaixo trecho do texto de Washington Olivetto, para a sétima edição da revista mag!, que fala sobre calor. Como eu sou chato, não vo postar as mesmas fotos que estão na revista. Vou postar umas do Ryan McGinley, que são bem quentes e calorosas. Quem quiser ver as fotos originais da matéria e ler o texto do cara em mãos, só comprando a revista.
A suécia não é aqui.
"Uma das mais perfeitas traduções do povo sueco está num filme de Ingmar Bergman, num livro de Torgny Lindgren, num quadro de Anders Zorn nem numa sinfonia de Franz Berwald. Não foi produzida por um sueco e não dura mais do que 30 segundos. Trata-se de um comercial da Volvo criado nos anos 70 do século passado pelo publicitário norte-americano Ed McCabe.
O filme se passa em uma sauna seca. Dentro dela estão alguns homens suecos - loiríssimos e de olhos azuis -, com aquela saúde de vaca premiada (como diria Nelson Rodrigues), suando em bicas (como diria minha vó), no mais absoluto silêncio. Esse suadouro silencioso dura aproximadamente 22 segundos, até que, de repente, um dos homens se levanta e vai em direção à saída. Imediatamente é seguido pelos outro. Eles abrem a porta da sauna, saem correndo e se atiram num lago inteiramente congelado.Nesse instante, a voz de um locutor em off diz, em um tom coloquial: "Nós fazemos carros tão resistentes quanto fazemos pessoas". Surge na tela, em cima da cena dos suecos duplamente "freezados", a assinatura Volvo.
Esse filme de antigamente é um daqueles raros casos em que a publicidade espelha - de maneira brilhante - as características de um produto e de um país. Coisa que acontece cada vez menos na comunicação e na propaganda dos dias de hoje.
Vivemos em um mundo de clichês pseudoglobalizados recheados com recursos de forma, mas vazios de conteúdo. A maioria das publicações parece ter sido editada pelo último fotógrafo da moda, seja ele quem for.
A maioria dos comerciais é apátrida. Parece-se muito com os executivos das salas de reuniões em que eles foram aprovados, mas pouco com o consumidor e com o produto anunciado.
Por essa e por outras - e antes que um americano o faça (me desculpe, Edward McCabe) -, me encata esta edição da mag! sobre calor humano no Brasil. Uma das características mais adoráveis e menos documentadas de nosso povo.
O calor humano (ao contrário das saunas secas, da frieza dos lagos gelados e dos editoriais das Vanity Fairs da vida) é nosso e ninguém tasca. É o maior patrimônio palpável, impalpável e papável da civilização brasileira (...)"
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